terça-feira, 22 de abril de 2008

Dom Hélder Câmara : "...quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista."


DOM HÉLDER PESSOA CÂMARA
"O DOM DA PAZ!..."


Religioso cearense, destacou-se internacionalmente quando ocupava a arquidiocese de Olinda e Recife, ao sair constantemente em defesa dos direitos humanos, durante o regime militar brasileiro instalado em 1964.
Foi um dos idealizadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fundada em 1952, uma das entidades responsáveis pela inclusão do problema das desigualdades sociais no discurso e ações da Igreja Católica no Brasil.
Por essa atuação, teve vários atritos com os militares e por muitas vezes a imprensa brasileira foi impedida pela censura oficial de publicar suas declarações e até mesmo de citar o seu nome.
Nasceu a 07 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará, num anexo de uma escola pública cuja diretora era sua mãe, a professora Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara.
Seu pai, o guarda-livros e crítico de teatro João Eduardo Torres Câmara Filho, deu-lhe o nome de Hélder depois de descobrir num dicionário o significado da palavra: "Hélder, fortaleza do Norte da Holanda".
Dom Hélder Câmara teve 12 irmãos, dos quais cinco morreram em 29 dias, em consequência de uma epidemia de difteria. Foi com os sete irmãos que escaparam que viveu sua infância até a entrada no Seminário de Fortaleza, de onde saiu padre aos 22 anos e meio.
Em 1931 aderiu ao Integralismo (versão brasileira do Fascismo) que viria a abandonar cinco anos depois. Exerceu, em Fortaleza, suas atividades sacerdotais entre intelectuais e operários, nunca tendo sido vigário.
Trabalhou ativamente na Liga Eleitoral Católica do Ceará e, em 1934, foi nomeado pelo governador Francisco Menezes Pimentel diretor do Departamento de Educação do Estado, cargo equivalente hoje a secretário estadual de educação.
Em 1936 padre Hélder vai morar no Rio de Janeiro, onde é nomeado assistente técnico do Secretariado de educação do então Distrito Federal. É nomeado pelo arcebispo do Rio, Dom Sebastião Leme, diretor do Ensino Religioso e da Renovação Catequética do arcebispado e, em seguida, torna-se inspetor de ensino do Ministério da Educação.
Posteriormente, torna-se membro do Conselho Superior de Ensino. Enquanto esteve no Ministério da educação, paralelamente é conselheiro da Nunciatura Apostólica.

Em 1946 desliga-se do ministério da Educação, pois o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara (substituto de Dom Leme), pretende nomeá-lo seu bispo auxiliar. Essa nomeação, porém, só é efetivada em 1952.
Em 1950, ao tomar parte do Congresso Mundial do Apostolado Leigo, em Roma, torna-se amigo do então monsenhor Montini (futuro Papa Paulo VI) e expõe os planos de fundar a CNBB, da qual viria ser primeiro secretário-geral (de 1952 a 1964) e secretário de Ação Social (1964-68).

Enquanto bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, funda o Banco da Previdência e a Cruzada de São Sebastião, para prestar assistência social aos moradores das favelas cariocas.
Dom Hélder foi, ainda, delegado do Brasil na Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (CELAM) e seu vice-presidente entre 1958-60 e 1964.
Divergências com o arcebispo Dom Jaime Câmara afastam Dom Hélder do Rio de Janeiro. Chega a ser nomeado oficialmente para o Maranhão, mas, com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para Pernambuco, onde desembarca a 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe militar brasileiro.
Dom Hélder fica na Arquidiocese de Olinda e Recife até sua aposentadoria, a 10 de abril de 1985, quando é substituído pelo arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho.
Morreu em sua casa, no Recife, às 22h20 de 27 de agosto de 1999, vítima de insificiência respiratória aguda, decorrente de uma pneumonia, depois de haver passado cinco dias hospitalizado. Uma multidão acompanhou o seu corpo que foi conduzido, em carro do Corpo de Bombeiros, até a Igreja da Sé, em Olinda, onde foi sepultado.
Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Hélder recebeu vários prêmios internacionais, entre os quais destacam-se o Prêmio Martinho Luter King, Estados Unidos, 1970, e o Prêmio Popular da Paz, Oslo, Noruega, 1974. Entre as honrarias, recebeu títulos de Doctor Honoris Causa em universidades de vários países.
Autor de 22 livros, a maioria ensaios e reflexões sobre o Terceiro Mundo e a Igreja.

Algumas de suas obras:

* Revolução Dentro da Paz, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968. Traduzido para o alemão, holandês, inglês, francês e italiano.
* Terzo Mondo Defraudado, Editora Missionária Italiana, Milão, 1968.
* Spirale de Violence, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1978. Traduzido para o português, espanhol, sueco, alemão, norueguês, holandês, chinês, italiano e inglês.
* Pour Arriver à Temps, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1970. Traduzido para o espanhol, alemão, italiano, holandês, sueco, inglês e grego.
* Le Désert est Fertile, Ed. Desclée de Brower, Paris, 1971. Traduzido para o português (1975), espanhol, italiano, holandês, inglês e coreano.
* Pier Pour les Riches, Ed. Pendo-Verlag, Zurique, 1972.
* Um Olhar Sobre a Cidade, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1976.
* Les Conversiones D'um Éveque, Ed. Seuil, Paris, 1977. Também em italiano, alemão e inglês.
* Mil Razões para Viver, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979. Traduzido para o francês e o alemão.
* Renouveau dans l'Esprit et Service l'Homme, Ed. Lumem Vitae, Bruxelas, 1979. Traduzido para o italiano, português e inglês.
* Nossa Senhora no Meu Caminho - Meditações do Padre José, Edições Paulinas, São Paulo, 1981.
* Indagações sobre uma vida melhor, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
Para saber mais sobre Hélder Pessoa Câmara, ver os seguintes livros:
* Os Caminhos de Dom Hélder - Perseguições e Censura, Marcos Cirano, Editora Guararapes, Recife, 1983.
* O Monstro Sagrado e o Amarelinho Comunista, Assis Claudino, Editora Opção, Rio de Janeiro, 1985.
* A Imprensa e o Arcebispo Vermelho, Sebastião Antônio Ferrarini, Edições Paulinas, São Paulo, 1992.
* Dom Helder por Marcos de Castro, Edições Graal, Rio de Janeiro, 1978.
* A Igreja e a Política no Brasil, Márcio Moreira Alves, Editora Brasiliense, São Paulo, 1979.

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